terça-feira, 31 de agosto de 2010

Lembre-se que, ao morrer, sua caixa de entrada não estará vazia



Muitos de nós vivemos nossas vidas como se o propósito secreto dela fosse, de alguma forma, cumprir todas as tarefas. Ficamos acordados até tarde, acordamos cedo, evitamos o prazer, e fazemos nossos amados esperarem. É com tristeza que tenho visto muitas pessoas materem os seres amados à distância por tanto tempo que eles perdem interesse em manter a relação. Quase sempre nos convencemos de que nossa obsessão com a lista do que "temos a fazer" é temporária que, uma vez que tenhamos chegado ao fim da lista, ficaremos calmos, tranquilos e felizes. Mais isso, na realidade, raramente ocorre. À medida que os itens vão sendo ticados, surgem outros novos para substituí-los.

A realidade da "caixa de entrada" é que seu único sentido é ter itens que a completem de maneira que nunca esteja vazia. Sempre haverá telefonemas que precisam ser dados, projetos a serem desenvolvidos, e trabalho a ser feito. De fato, podemos argumentar até que uma "caixa de entrada" cheia é fundamental para nossa noção de sucesso. Significa que nosso tempo está sendo requisitado!

Independente de quem você seja ou do que faça, no entanto, lembra-se que nada é mais importante do que a sensão de felicidade e paz interior e de pessoas que nos amam. Se você é do tipo obcecado com coisas a serem feitas, nunca terá a sensação de bem-estar! Na verdade, quase todo pode esperar. Muito pouco de nossa vida de trabalho realmente se encaixa na categoria de " emergência". Se você se mantém concentrado no seu trabalho, ele será feito em tempo hábil.

Eu acredito que se me lembrar (frequentemente) que o propósito da vida não é fazer tudo, mas aproveitar cada passo no caminho e viver uma vida repleta de amor, será muito mais fácil para mim controlar minha obsessão em relação à execução de listas de coisas a serem feitas. Lembre-se, quando você morrer, ainda haverá coisas por completar. E sabe do que mais? Alguém as fará por você! Não desperdice nenhum dos momentos preciosos de sua vida lamentando o inevitável.

Retirado do livro:
Não faça tempestade em um copo d'água...
De: Richard Carlson, Ph. D.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Só um Mundo de Amor pode Durar a Vida Inteira


Há coisas que não são para se perceberem. Esta é uma delas. Tenho uma coisa para dizer e não sei como hei-de dizê-la. Muito do que se segue pode ser, por isso, incompreensível. A culpa é minha. O que for incompreensível não é mesmo para se perceber. Não é por falta de clareza. Serei muito claro. Eu próprio percebo pouco do que tenho para dizer. Mas tenho de dizê-lo.


O que quero é fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixonade verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.


Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios.Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.

Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço.


Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?

O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida,o nosso "dá lá um jeitinho sentimental". Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casaizinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar.


O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não é para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende.


O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem. Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado,viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a Vida inteira, o amor não.

 
Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também.



Miguel Esteves Cardoso, in 'Jornal Expresso'


sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Palavras soltas


Certos acontecimentos nos deixam tão surpresos que, não conseguimos digeri-los. No entanto, é melhor manter-nos quieto, sem alardes; para que assim, possamos ficar serenos com os tais inesperados fatos. Pensamentos soltos, a vagar por a imensidão que é nosso cérebro; em meio a essa viagem que é o pensar. Um mundo de ilusões fantasia que nos trás sentimentos bons e ruins... Assim as palavras soltas vão surgindo, sem que percebessem a naturalidade com que elas saem.

Toda sexta-feira


♪♫Toda sexta-feira toda roupa é branca
Toda pele é preta
Todo mundo canta
Todo céu magenta
Toda sexta-feira todo canto é santo
E toda conta
Toda gota
Toda onda
Toda moça
Toda renda
Toda sexta-feira
Todo o mundo é baiano junto♪♫

(Adriana Calcanhoto)

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Escrever é Esquecer


   Escrever é esquecer. A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida. A música embala, as artes visuais animam, as artes vivas (como a dança e o representar) entretêm. A primeira, porém, afasta-se da vida por fazer dela um sono; as segundas, contudo, não se afastam da vida - umas porque usam de fórmulas visíveis e portanto vitais, outras porque vivem da mesma vida humana. Não é o caso da literatura. Essa simula a vida. Um romance é uma história do que nunca foi e um drama é um romance dado sem narrativa. Um poema é a expressão de ideias ou de sentimentos em linguagem que ninguém emprega, pois que ninguém fala em verso.


Fernando Pessoa, in 'Livro do Desassossego'

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Amar sem Possuir é um Tormento



Se a ti, onde Amor leva o pensamento,
Meu triste coração levar pudesse,
Dó terias, cruel, do que padece,
S'inda em teu peito cabe sentimento.

Amar sem possuir é um tormento
Que só quem o suporta é que o conhece.
Não o conheces tu, pois te arrefece
Sempre, na ausência, o frio esquecimento.

Tu tens um coração que se persuade
Dever amar só quando se deleita
Na posse do prazer, da sociedade.

O meu segue outra estrada mais direita,
Ama distante, ferem-no a Saudade
O Ciúme infernal, a vil Suspeita.

- Francisco Joaquim Bingre, in 'Sonetos'.


Quando nos encontramos numa situação difícil, seja ela qual for; é preferível manter-nos calmos mesmo que, a situação venha ser de total desespero. Respire fundo... Expulsa o ar que há dentro do seu pulmão; desse modo, é como se tirássemos todas as impurezas que nos consome.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Mágico Alguém



"Durante muitos anos
esperamos encontrar alguém
que nos compreenda,
alguém que nos aceite como somos,
capaz de nos oferecer felicidade
apesar das duras provas.
Apenas ontem descobri
que esse mágico alguém
é o rosto que vemos no espelho."


Richard Bach

sábado, 7 de agosto de 2010

O Pai



Terra de semente inculta e bravia,
terra onde não há esteiros ou caminhos,
sob o sol minha vida se alonga e estremece.

Pai, nada podem teus olhos doces,
como nada puderam as estrelas
que me abrasam os olhos e as faces.

Escureceu-me a vista o mal de amor
e na doce fonte do meu sonho
outra fonte tremida se reflecte.

Depois... Pergunta a Deus porque me deram
o que me deram e porque depois
conheci a solidão do céu e da terra.

Olha, minha juventude foi um puro
botão que ficou por rebentar e perde
a sua doçura de seiva e de sangue.

O sol que cai e cai eternamente
cansou-se de a beijar... E o outono.
Pai, nada podem teus olhos doces.

Escutarei de noite as tuas palavras:
... menina, minha menina...

E na noite imensa
com as feridas de ambos seguirei.

Pablo Neruda, in "Crepusculário"
Tradução de Rui Lage.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010



O coração é uma riqueza que não se vende nem se compra. Presenteia-se.



Autor: Flaubert , Gustave

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Ai que saudade d'ocê




Não se admire se um dia
Um beija flor invadir
A porta da sua casa
Te der um beijo e partir
Fui que mandei um beijo
Que é pra matar meu desejo
faz tempo que não te vejo
Ai que saudade d'ocê


Se um dia ocê se lembrar
Escreva um carta pra mim
Bote logo no correio
Com frases dizendo assim
Faz tempo que não te vejo
Quero matar meu desejo
Me mande um monte de beijos
Ai que saudades sem fim


E se quiser recordar
Daquele nosso namoro
Quando eu ia viajar
Você caia na choro
Eu chorando pela estrada
Mas o que eu posso fazer ?
Trabalhar é minha sina
Eu gosto mesmo é d'ocê.

Há Palavras que Nos Beijam




Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperançar louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto;
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.


Alexandre O'Neill, in 'No Reino da Dinamarca'