Terra de semente inculta e bravia,terra onde não há esteiros ou caminhos,sob o sol minha vida se alonga e estremece.
Pai, nada podem teus olhos doces,como nada puderam as estrelasque me abrasam os olhos e as faces.
Escureceu-me a vista o mal de amore na doce fonte do meu sonhooutra fonte tremida se reflecte.
Depois... Pergunta a Deus porque me deramo que me deram e porque depoisconheci a solidão do céu e da terra.
Olha, minha juventude foi um purobotão que ficou por rebentar e perdea sua doçura de seiva e de sangue.
O sol que cai e cai eternamentecansou-se de a beijar... E o outono.Pai, nada podem teus olhos doces.
Escutarei de noite as tuas palavras:... menina, minha menina...
E na noite imensacom as feridas de ambos seguirei.
Pablo Neruda, in "Crepusculário"Tradução de Rui Lage.
sábado, 7 de agosto de 2010
O Pai
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