"Eu poderia ter me apaixonado por você. Mas, você não é meio confuso, não tem um jeitinho subliminar, não é todo perdido, não vai ferrar a minha cabeça de pseudoescritora e não vai me obrigar a fazer coisas sábado de manhã pra curar a dor do meu coração de espírito livre.
Eu poderia ter me apaixonado por você, mas eu sou enjoada, toda errada, cheia de perguntas difíceis, palavras complexas, respostas prontas, crônicas endereçadas, poesias distraídas e sou meio como o mar, que tem dias de calmaria e dias de muita intensidade.
Eu poderia ter me apaixonado por você, mas eu sempre faço questão de falar das minhas dúvidas, dos meus defeitos de menina neurótica e dos meus questionamentos existenciais até perder totalmente o encanto, como a menina do filme, guardando só para os íntimos a doçura, as risadas, o carinho, o cuidado, a atenção, as confissões e o amor que não questiona.
Eu poderia ter me apaixonado por você, mas você cuidaria tão bem de mim que todo mundo odiaria a felicidade estampada no meu sorrisinho de canto de boca, que você levaria pra passear junto com o seu quando eu não estivesse trabalhando, escrevendo, dando risada, lendo ou ouvindo as canções de Chico que me abraçam.
Eu poderia ter me apaixonado por você, mas eu tenho essa dor no peito quando respiro muito forte, e você merece muito mais do que uma bronquite crônica e sem conserto que eu herdei de tantos desamores, de tantas palavras dolorosas e de tantas confissões de travesseiro.
Eu poderia ter me apaixonado por você, mas ultimamente eu sou do tipo que fica no seguro, e agora todo mundo tem que me ganhar nos primeiros sete segundos e depois me ganhar sempre um pouquinho, até eu ser inteira de novo e não mais uma grande cratera vazia que faz eco.
Eu poderia ter me apaixonado por você, mas poderia acabar me apaixonando até demais, e depois ia te querer só pra mim, e um dia você acordaria guardado dentro de uma caixinha de madeira, onde eu ia te ensinar a fazer poesia pra gente poder se alimentar só disso.
Eu poderia ter me apaixonado por você, Mas infelizmente e estupidamente; comigo existe sempre um "mas"..."
- Maria Rita Angeiras em 'Mas'.
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