sexta-feira, 9 de abril de 2010

O Tempo Seca o Amor...




O tempo seca a beleza,
seca o amor, seca as palavras.
Deixa tudo solto, leve,
desunido para sempre
como as areias nas águas.

O tempo seca a saudade,
seca as lembranças e as lágrimas.
Deixa algum retrato, apenas,
vagando seco e vazio
como estas conchas das praias.

O tempo seca o desejo
e suas velhas batalhas.
Seca o frágil arabesco,
vestígio do musgo humano,
na densa turfa mortuária.

Esperarei pelo tempo
com suas conquistas áridas.
Esperarei que te seque,
não na terra, Amor-Perfeito,
num tempo depois das almas.

Cecília Meireles, in 'Retrato Natural'



Um comentário:

  1. Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir.
    O que confesso não tem importância, pois nada tem importância.
    Faço paisagens com o que sinto.
    De resto, com que posso contar comigo?
    Uma acuidade horrível das sensações, e a compreensão profunda de estar sentindo…
    Uma inteligência aguda para me destruir, e um poder de sonho sôfrego de me entreter...

    Assim sou, Sou assim...

    Idem.

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